15.5.11

9. COMO É LINDA NOSSA PROFISSÃO

Em 15 de novembro de 1996, chegando a Guarulhos no VRG 201, procedente de Manaus, acompanhando o trabalho na cabine de um B767, pude garimpar conhecimento e fazer daquela viagem a serviço, um momento de imenso prazer.

Durante a aproximação intermediária para a pista 27, no horário do rush, houve mudança para a pista 09 e um trabalhoso re-ordenamento do tráfego aéreo.
Ao furarmos a camada em torno de 7000 ft, deparei-me com minha linda cidade, reluzente depois da forte chuva que acabara de cair. Podíamos ver as "anti-colision" das aeronaves que nos antecediam e que nos seguiam naquela ciranda para pouso. Extasiado com a beleza do cenário, as luzes piscando e imaginando o "barata voa" que estaria na sala do Controle de Aproximação, resmunguei no jump seat:
"-Como é lindo esse trabalho!"
Após o pouso, o comandante que exigia de seu co-piloto o tratamento de "Senhor" entregou o taxi da aeronave ao assistente, recuou a cadeira, estufou o peito e olhando-me com ar de superioridade argumentou:
-"Pois é, com relação à sua observação, também acho um serviço muito bonito, mas pena que não é remunerado adequadamente. Vida de piloto não é fácil!"

Ao fim dessas palavras, deixei escapar uma grande e desconcertante gargalhada. Diante da incredulidade do comandante e da cara de espanto do co-piloto, ainda rindo eu disse:

-"Pois é comandante. Eu estava falando como é lindo o trabalho de um controlador de tráfego aéreo. Acho que se eu não fosse controlador, talvez tivesse sido um piloto. Sei lá! O controlador que o vetorou até a aproximação final é um renomado cirurgião dentista de nome Lori, com mais de 20 anos de odontologia e 30 de controle de tráfego em São Paulo."

O clima dentro da cabine até o nosso desembarque ficou horrível.
O co-piloto que até então permanecia sisudo, incomodado com a supremacia pedante de seu capitão, passou a expressar um risinho de soslaio, talvez por pura satisfação de ter sido vingado aos 45 minutos do segundo tempo.

Acho que é por isso que há 33 anos me chamam de cachorrão. Acho também que o relacionamento daquela tripulação técnica era muito parecido com aquele que, em 3 de setembro de 1989 levou o VRG 254 a conhecer São José do Xingu. Lembra? Do jogo Brasil e Chile? Do goleiro Rojas? Da fogueteira? Ah! da fogueteira vocês se lembram né? da Playboy?




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